14 de março de 2025
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5 obras para saber mais sobre comunidades quilombolas

Com temas que variam da resistência escrava às políticas de reconhecimento contemporâneas, essas obras sobre comunidades quilombolas oferecem um mergulho em um aspecto fundamental da cultura e da identidade brasileira.
20 de janeiro de 2025
Mulher idosa negra e com lenço na cabeça está sentada de perfil. em ato público das comunidades quilombolas de Iporanga.
Ato público das comunidades quilombolas de Iporanga, Eldorado e Barra do Turvo. Foto: Emanuela Nardin (CC).

As comunidades quilombolas são formadas por pessoas que residem ou residiram em áreas remanescentes de quilombos, isto é, aqueles territórios livres formados por escravizados que escapavam da opressão escravista durante o Brasil colonial. Os quilombos, além de refúgio, tornaram-se centros de cultura, organização social e luta coletiva. Palmares foi o mais conhecido de todos, mas eles existiram em todo o Brasil.

As comunidades quilombolas podem ter, hoje, diferentes características, mas possuem em comum o fato de simbolizarem a resistência ao racismo e aos ideais escravocratas. São comunidades tradicionais, históricas e possuem identidades próprias, além de tradições, costumes e práticas ancestrais. É uma simbiose de social de território e gente.

Reconhecidos pela Constituição de 1988, os quilombolas estão envolvidos em grandes batalhas por reconhecimento social e territorial, envolvendo preservação cultural e justiça social. Lutam, principalmente, contra o racismo, o preconceito da sociedade e o abandono do Estado.

Segundo dados do Censo 2022, o Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas atualmente, representando uma rica diversidade de experiências, desafios e histórias. Contudo, apenas 12% vivem em área demarcada, e 4,3%, em territórios devidamente titulados. A questão tem, nos últimos anos mobilizado membros dessas comunidades, o movimento negro, historiadores e organizações de direitos humanos.

Em entrevista recente ao site do Instituto Humanitas – Unisinos, Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora titular do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), explicou um pouco da conexão histórica entre as comunidades quilombolas brasileiras e outras comunidades de resistência na história contemporânea:

 “Historicamente foi muito difícil essas comunidades sobreviverem na direção contrária da propriedade privada. São grupos que receberam todo tipo de violência e perseguição. Os quilombos são ocupações camponesas, mas que diferem do que houve na Europa, por exemplo. Lá existiu a figura do camponês que, a partir da revolução francesa, conquista a possibilidade de ser um pequeno proprietário, com produção familiar e controle da terra. Nas Américas não houve esse campesinato, porque o que tivemos aqui foi a escravidão negra e indígena. Ou seja: o camponês latino-americano, especialmente no Brasil, foi em sua maioria o sujeito escravizado fugido, desertor e que esteve sempre invisibilizado.”

Entender a trajetória dessas comunidades e suas lutas é essencial para quem busca uma visão mais ampla e inclusiva da história e da sociedade brasileira. Com isso em mente, selecionamos cinco obras fundamentais que abordam diferentes aspectos dessas comunidades, desde sua formação até os desafios atuais.

Capa do livro Quilombos, resistência e escravismo, que tem dois homens negros sentados em um quilombo antigo.

1. “Quilombos e a Resistência Negra” – Clóvis Moura

Clássico indispensável, este livro oferece um panorama profundo sobre o papel dos quilombos na resistência à escravidão no Brasil. Clóvis Moura analisa os quilombos como fenômenos sociais e políticos, desmontando mitos e revelando como esses territórios foram cruciais para a luta contra a dominação colonial.

O autor apresenta a análise histórica sobre a formação do escravismo brasileiro com relevância numérica em todo território nacional, o que diferencia do escravismo nos Estados Unidos e na América Latina, cuja contradição principal era a exploração da força de trabalho dos negros e negras africanos escravizados pelos senhores. Confira aqui.

2. “Devir Quilomba” – Mariléa De Almeida

Neste livro, Mariléa de Almeida, professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), narra experiências de dezenas de mulheres quilombolas do estado do Rio de Janeiro, produzindo uma história e um inventário das formas pelas quais o afeto produz espaços de vida nos quilombos, tem no próprio afeto um método, ou uma dimensão central da pesquisa. Para a historiadora, o afeto é um elemento constituinte de seus espaços de vida dessas mulheres, de seus projetos coletivos e de suas lutas políticas. Confira aqui.

3. “O quilombismo: documentos de uma militância Pan-Africanista” – Abdias do Nascimento

Abdias do Nascimento, uma das vozes mais influentes do movimento negro brasileiro, explora as conexões entre o passado quilombola e as realidades urbanas contemporâneas. O autor argumenta que a luta por reconhecimento e igualdade atravessa os séculos, conectando os territórios de resistência do período colonial às periferias urbanas modernas. Resposta ao racismo institucionalizado em nosso país, o Quilombismo propõe soluções, antecipa temas e descortina novos horizontes de atuação pública no Brasil. Confira aqui.

O livro propõe, em seus dez documentos, um programa de ação, elaborado da perspectiva dos afrodescendentes, que retoma a experiência comunal dos quilombos para, a partir daí, construir uma proposta de mobilização e transformação sociopolítica em enfrentamento uma atmosfera de preconceito difuso e insidioso que lhes sufoca a existência.

Capa do livro Comunidades quilombolas na Amazônia, que tem um objeto regional, usado para amassar alimentos.

4. “Comunidades Quilombolas na Amazônia: Experiências, identidades em (re)construção no Tambaí-Açu” – Ellen Rodrigues da Silva

O livro é a pesquisa de mestrado da autora, realizada entre os anos 2017 e 2019 na Comunidade Quilombola Tambaí-açu, município de Mocajuba, estado do Pará, Amazônia, Brasil. A análise produzida por meio de materialidades produtivas realizadas por homens e mulheres quilombolas, pautada no método dialético materialista histórico, conduz à compreensão de como têm ocorrido os processos de (re)construção de identidades quilombolas na contradição trabalho-capital.

A investigação, de base teórico-marxiana, construiu conclusões de que as identidades da Comunidade Quilombola Tambaí-Açu se (re)constroem na mediação dos saberes sociais do trabalho e capital, contradição configurada entre o trabalho nos mutirões e o trabalho nos pimentais. Confira aqui.

Capa do livro Comunidades Quilombolas, que tem várias mãos negras segundo fotos dessas comunidades.

5. “Comunidades quilombolas: outras formas de (re)existências ” – Ana Angélica Leal Barbosa

“Comunidades quilombolas” traz a realidade de seis comunidades quilombolas localizadas na zona rural e uma na zona urbana, todas situadas no estado da Bahia. Os autores descrevem a realidade das vivências e resistências das pessoas quilombolas, ressaltando que essa temática interessa aos professores que atuam nos diferentes níveis de ensino. Confira aqui.

Os autores pesquisadores desenvolveram seus trabalhos tendo como referência o método da etnografia a partir das viagens de campo, das anotações no diário de bordo, além da permanência nas comunidades para realizarem as observações dos hábitos e costumes. Essas observações e convivências permitiram um olhar diferenciado que pode ser percebido na leitura dos capítulos.

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Júlio Pereira

Formado em Sociologia pela UFRJ, torcedor do Flamengo e morador de Niterói. Adora cinema de terror e livros de ficção científica. Tem 28 anos.

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