A Guerra do Contestado foi uma das mais importantes e violentas da história republicana brasileira. Quem deseja conhecer um pouco mais sobre a sua história terá, a partir de agora, gratuitamente, um ótimo livro: “Lideranças do Contestado”, do historiador Paulo Pinheiro Machado, publicado em 2004 pela editora da Unicamp. Para baixar, clique aqui.
O livro é uma versão modificada da tese de doutorado defendida por Machado em 2001, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. “Lideranças do Contestado” revela as origens sociais e as experiências políticas das lideranças sertanejas do Contestado, como os “comandantes de briga” das “cidades santas”, que dominaram extenso território do interior de Santa Catarina e do Paraná, entre 1912 e 1916.
Analisando o povoamento do planalto meridional, o caminho das tropas, as disputas políticas locais, a tradição de São João Maria e as transformações ocorridas na região na virada do século XIX ao XX, o livro situa a Guerra do Contestado com base na história social do sertão.

Para isso, o autor revisita a literatura sobre o tema e utiliza fontes primárias, que incluem depoimentos dos últimos sertanejos sobreviventes. Além disso, Machado apresenta diferentes aspectos da aventura dos caboclos em sua luta pelo que entendiam por liberdade, dignidade e justiça. O livro é, por tudo isso, uma enorme contribuição à História da Guerra do Contestado.
O autor
Paulo Pinheiro Machado é doutor em história pela Unicamp e realizou seu pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense e na Universitat Autonòma de Barcelona. Tem experiência na área de História do Brasil, com ênfase no período do Império e primeiras décadas da República. Guerra do Contestado é um dos seus principais temas de interesse.
O que foi a Guerra do Contestado
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi um conflito ocorrido na região de fronteira entre Paraná e Santa Catarina, no sul do Brasil, envolvendo camponeses, forças do governo e grandes empresas. Originou-se da disputa por terras, agravada pela construção de uma ferrovia que desalojou milhares de pessoas e a concessão de vastas áreas a empresas estrangeiras.
Esses fatores, somados à liderança messiânica de figuras religiosas locais, levaram os sertanejos a resistirem contra a exclusão social e econômica. O governo reprimiu violentamente o movimento, resultando em milhares de mortes e marcando a luta pela terra e pelos direitos dos mais pobres na história brasileira.
Trecho do livro
Um pequeno trecho da apresentação do livro, por Marli Auras, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC):
“Considero que essa contribuição aos estudos acerca do Contestado não deixa pedra sobre pedra em leituras anteriores que entendiam, por exemplo, que os sertanejos viviam isolados do restante do país, que acabaram por realizar um movimento pré-político, profundamente marcado pelo fanatismo e pela loucura.
Esse trabalho apresenta aspectos do conteúdo que foi emergindo do próprio âmago da luta cabocla, com vistas a, deste modo, poder desenvolver “uma discussão sobre a capacidade e possibilidade da luta camponesa, além de reagir a investidas ‘de fora’, em engendrar um projeto novo de sociedade”, como se afirma na Introdução. Nela, o autor chega mesmo a falar em “comunismo caboclo”.
Sempre desafiador, avança em sua leitura tecendo considerações/problematizações tais como as seguintes, apresentadas no capítulo 4: “A ‘monarquia cabocla’ deixa de ser um projeto isolado apenas para os devotos e se converte, na prática, em um objetivo revolucionário. para a modificação de toda a sociedade” e “Os ‘pelados’ construíram um projeto de sociedade e defendiam que deveria ser aplicado em todo o Brasil”.
Gostaria de destacar, também, o denso diálogo que a obra trava com os três primeiros mais substanciais estudos relativos ao Contestado — hoje já considerados clássicos no âmbito do conhecimento acerca desse movimento rebelde: o de Maria Isaura Pereira de Queiroz, o de Maurício Vinhas de Queiroz e o de Duglas Teixeira Monteiro.
O presente trabalho reconhece e leva em conta suas contribuições, mas avança significativamente a ponto de promover rupturas decisivas, pertinentes, necessárias, expostas com solidez e argúcia teórica, embasadas em fontes primárias inéditas ou ainda pouco exploradas.
Ao não partir de conceitos ou categorias abstratos, generalizadores, ahistóricos, o presente estudo teve condições de perceber e analisar importantes mediações geradoras da especificidade do movimento rebelde, capazes de evidenciar, naquele tempo e espaço, a inventividade, a capacidade de criação dos caboclos do Contestado.
Considero especialmente lapidar e corajoso o diálogo do autor com Pereira de Queiroz, incluindo o registro de seu lamento diante dos reiterados vetos da professora aos pesquisadores do Contestado que buscam acesso ao seu certamente importante acervo a respeito do movimento.”
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