Em alguns dias, desembarca no Brasil o mais recente livro de Brandon Taylor: “Vidas tardias”, lançado originalmente em inglês, em 2023. Taylor é um dos autores norte-americanos mais talentosos dos últimos anos. O livro chega às prateleiras das livrarias no dia 4 de fevereiro pela editora Fósforo, que costuma ser bastante cuidadosa com as suas traduções. Estará disponível no formato impresso e e-book. Na Amazon, o livro já está em pré-venda – confira aqui.
Mas vamos lá. Sobre o que é o livro? Ambientado em Iowa City, “Vidas Tardias” acompanha um grupo de jovens no último ano da pós-graduação, incluindo escritores, dançarinos e músicos. Entre eles estão Seamus, um poeta de opiniões afiadas; Ivan, que após abandonar a carreira na dança recorre à pornografia amadora; Noah, um bailarino suscetível a relacionamentos tempestuosos; e Fátima, que equilibra julgamentos alheios, trabalho em um café e ensaios de dança na faculdade.

Esses personagens enfrentam dilemas relacionados à identidade, carreira, gênero, classe e racismo, refletindo as forças multifacetadas que operam no presente. A essa altura já está claro onde reside a força-motora do livro: Brandon Taylor está falando de sua própria geração, de suas inquietações, euforias, sonhos e ingenuidades.
Brandon Taylor e o realismo
Desde sua estreia literária no mundo dos romances com “Mundo Real” (2020), Brandon Taylor tem se consolidado como uma voz potente na literatura contemporânea. Descrito pela escritora Roxane Gay como “um escritor que exerce sua arte de maneiras absolutamente inesquecíveis”, Taylor aprofunda ainda mais sua habilidade narrativa em “Vidas Tardias”, criando um mosaico de personagens que refletem as angústias e incertezas da geração millennial.
A crítica internacional tem recebido “Vidas Tardias” com entusiasmo. O Boston Globe afirma que o romance é “o melhor livro de Brandon Taylor até agora”, destacando a busca dos personagens por sentido em meio às complexidades da existência. O Oprah Daily descreve a obra como “erudita, íntima, hilária, pungente”, enquanto o The New York Times ressalta sua sensibilidade e beleza. A Harper’s Bazaar elogia a precisão com que Taylor desenvolve seus personagens, tornando-os “reconhecíveis, às vezes irritantes, e sempre dignos de serem acompanhados até a última página”.
“Iowa era uma espécie de inverno cultural — todos tinham ido até aquela cidadezinha no meio de um estado no meio do país para estudar arte, aprimorar a si mesmos e as suas ideias como armas perfeitas e terríveis, e, diante da privação monástica que encontravam, eles se voltavam uns contra os outros. Toda espécie em extinção busca o próprio tipo de conforto.”
Brandon Taylor, “Vidas tardias”
Em entrevista recente ao portal The Adroit Journal, Brandon Taylor falou sobre o fato de sua escrita ser considerada “realista”:
“Eu cresci em uma família que não falava, então eu não tinha acesso aos pensamentos das pessoas ao meu redor. Quando fui para a faculdade, perguntei aos meus amigos: “Outras pessoas têm pensamentos e sentimentos?” E eles disseram: “Brandon? Sim.”
Tal era a extremidade da minha privação dos estados interiores de outros humanos. Essa é a minha experiência com o mundo, e eu ficava frustrado quando lia um romance ou conto e os personagens sabiam o que dizer um ao outro. Eles têm acesso às mesmas referências, e o diálogo é tão habilidoso e suave, sem mal-entendidos ou mal-entendidos.
Percebi que uma coisa que caracteriza meu trabalho é que escrevo personagens que não têm acesso ao conhecimento social coletivo, paradigma social ou um conjunto de referências. Eles estão tentando descobrir os jogos que estão sendo jogados ao redor deles.
Acho que essa é uma parte tão dominante da minha experiência social que não vejo na ficção: ninguém está falando sobre o conjunto impenetrável de referências que cria coesão entre pessoas que não têm acesso às mesmas referências. Como alguém que tem dificuldade em cenários como esse, quero capturar o absurdo e a beleza disso. As pessoas são capazes de se comunicar de uma forma que vai além do que estão dizendo, e há extra materialidade que é comunhão social real.”
O autor
Brandon Taylor nasceu em 1989, em Prattville, Alabama. Graduou-se pela Universidade de Wisconsin-Madison e pelo Iowa Writers’ Workshop, onde foi bolsista do programa de escrita criativa. Além de “Vidas Tardias”, é autor de “Mundo Real” (Fósforo, 2021), finalista do Booker Prize de 2020, e da coletânea de contos “Filthy Animals” (2021).
Em “Vidas Tardias” (“The Late Americans”, no original), Taylor reafirma seu talento em captar as nuances da experiência humana, oferecendo uma leitura profunda e envolvente sobre a juventude contemporânea e os desafios de encontrar propósito e conexão em um mundo cada vez mais complexo.
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