O cinema americano, simbolizado por Hollywood, não é mais a maior indústria cinematográfica do planeta, em termos de número de produções. Esse título, há alguns anos, pertence à Boolywood, da Índia. O que não surpreende tanto, já que o país tem cerca de 1 bilhão e meio de habitantes, o mais populoso do mundo. O que surpreende mesmo é que Hollywood não é mais nem o terceiro colocado. Agora, esse posto agora pertence à Nigéria e à sua chamada Noolywood.
O termo Noolywood é uma junção de Nigéria e Hollywood. A origem é um tanto incerta, mas especula-se que ele tenha sido usado pela primeira vez no início dos anos 2000 em uma reportagem do jornal americano The New York Times. O termo continua a ser usado na mídia para se referir à indústria cinematográfica nigeriana como um todo. Então, toda produção audiovisual nigeriana estaria dentro de Noolywood.
Os números da Noolywood são realmente impressionantes. Em 15 anos, a indústria cresceu do zero para um mercado de cerca de US$ 615 milhões por ano que emprega milhares de pessoas. Estima-se que cerca de 300 diretores estejam em atividade, produzindo um total de aproximadamente dois mil filmes por ano. Grande parte dos filmes tem orçamento modesto e muitos têm dificuldade em ser exibidos fora da África, mas os nigerianos – o país tem cerca de 235 milhões de habitantes, mais que o Brasil – consomem massivamente essa produção, mostrando a saúde e representatividade desses filmes.
Porque Noolywood é possível?
A Canon, fabricante de máquinas fotográficas e filmadoras, produziu uma reportagem sobre aquela indústria. Nesse texto, levanta-se a bola – bastante plausível – de que o fenômeno audiovisual nigeriano tem a ver com o passado recente do país, marcado por autoritarismo e exílios:
“Depois de anos de governo militar, a democracia voltou à Nigéria em 1999, o que permitiu que muitos refugiados de guerra regressassem a casa e trouxessem com eles as competências e o dinheiro que tinham adquirido enquanto estavam fora do país. Quando estiveram ausentes do país, alguns trabalharam na indústria cinematográfica e aprenderam técnicas que podiam ser aplicadas a filmes criados no país. E apesar de a indústria cinematográfica ainda estar muito saturada com o conteúdo que ia direto para vídeo, existiram alguns pensadores que conseguiram ver mais à frente e ousaram ser diferentes”.
Para Luciane Carniro, repórter de O Globo, “o que distingue a indústria cinematográfica nigeriana de suas duas concorrentes diretas é uma temática com a qual os africanos se identificam, como amor, Aids, corrupção policial e pobreza. Além disso, de acordo com a Unesco, o sucesso de Nollywood se deve a produções de baixo orçamento, de cerca de US$ 30 mil, que são lançadas em DVDs e vendidas a US$ 1 para serem assistidas em casa e não em salas de cinemas”.
Expansão
A influência de Nollywood transcende as fronteiras nigerianas, alcançando audiências em toda a África e na diáspora africana. Os filmes, frequentemente produzidos em inglês, além de idiomas locais como iorubá, igbo e hausa, refletem as realidades sociais, políticas e culturais da Nigéria, ressoando com espectadores de diversas origens.

Nos últimos anos, plataformas de streaming como a Netflix reconheceram o potencial de Nollywood, incorporando filmes nigerianos em seus catálogos e investindo em produções originais. Essa visibilidade global não apenas amplia o alcance das produções nigerianas, mas também atrai investimentos estrangeiros, impulsionando ainda mais a indústria.
Destaque
Recentemente, Noolywood tem dado sinais de que vai conseguir furar a bolha. Na verdade, isso já aconteceu com o filme, “A Lista da Vingança” (“The Black Book”), dirigido por Editi Effiong, cineasta nigeriano e autor de um dos maiores sucessos de seu país. O filme contou com um orçamento recorde no país: 1 milhão de dólares.
A trama acompanha Paul Edima, um diácono de luto que busca justiça após seu filho ser injustamente acusado de sequestro e morto por uma gangue policial corrupta. Determinado a limpar o nome de seu filho, Paul confronta figuras poderosas e enfrenta seu próprio passado sombrio, revelando segredos que colocam sua fé e moralidade à prova.
Segundo a revista Exame, “os direitos do filme foram comprados pela Netflix em 2023 e o longa entrou para o top 10 do streaming em menos de dois dias após sua estreia na plataforma, assistido por mais de 20 milhões de pessoas nas duas primeiras semanas (boa parte delas brasileiras).”
Para saber mais sobre a história da África, recomendamos três livros:
1. História da África e dos africanos, de Analúcia Danilevicz Pereira
2. História e historiografia da África, de Emilio Sarde Neto
3. África à vista: dez estudos sobre o português escrito por africanos no Brasil do século XIX, de Tânia Lobo e Klebson Oliveira.