14 de março de 2025
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“Atividade Paranormal”: a maior assombração do filme é o namorado

Lançado em 2007, "Atividade Paranormal" conta a história de um casal assombrado por um demônio. Mas é o homem a maior assombração desse filme.
11 de março de 2025
Cena de Atividade Paranormal, em que o casal está deitado na cama olhando assustado para a porta aberta, no meio da madrugada.
Cena de "Atividade Paranormal" (2007). Katie não percebe, mas a assombração estão ao lado dela, na cama. Tenso.

Em 2007, um filme causou sensação internacional: o terror “Atividade Paranormal”. O roteirista e diretor Oren Peli usou uma câmera caseira apenas para filmar e produziu um filme no estilo documentário, algo parecido com o que “A Bruxa de Blair” fez em 1999. Depois das primeiras boas repercussões, a Paramount/DreamWorks adquiriu os direitos de distribuição nos EUA por 350 mil dólares, fazendo de Paranormal Activity o filme mais rentável da história do cinema e uma franquia.

“Atividade Paranormal” acompanha um jovem casal, Katie e Micah, de 20 e poucos anos, que se muda para uma nova casa nos subúrbios de San Diego. Katie revela que, desde a infância, sente a presença de uma entidade sobrenatural ao seu redor, o que leva Micah a instalar câmeras para registrar qualquer atividade incomum. Ele fica, desde o início do filme, obcecado em fazer imagens de qualquer coisa estranha na casa. Segundo explica, eles precisam de um “bom material” – provavelmente pensando em algum tipo de retorno financeiro ou fama repentina.

Conforme as noites passam, eventos perturbadores começam a se intensificar: portas se movem sozinhas, ruídos estranhos ecoam pela casa e Katie demonstra um comportamento cada vez mais inquietante. A tentativa de entender e confrontar a entidade apenas agrava a situação, levando a um desfecho aterrorizante.

A maior assombração de Atividade Paranormal

Eu achei o filme legal. Mesmo quase 20 anos depois, ele ainda continua imersivo e dá alguns bons sustos. A cada vez que entra a câmera com filtro azul, a tensão aumenta – sabe-se lá o que vai aparecer. Mas tem uma coisa que me chamou mais a atenção: Micah, o homem. Para mim, ele é a grande assombração do filme, e torna compreensível a irritação enorme não só de Katie, mas do próprio demônio que assombra a casa. O demônio perde em teimosia e idiotice para Micah. Um personagem irritante.

Além de ficar obcecado em filmar tudo para proveito próprio, Micah não escuta nada que Katie diz e relata. Ele simplesmente a ignora. Dá vontade de dizer: “Katie, sai dessa relação”. Ou ainda, “Katie, antes só (ou só com o demônio) do que mal acompanhada”. Mas a gente não pode, então só vamos mesmo é acumular raiva no decorrer do pseudocomentário.

Quando a atividade paranormal na casa atinge um novo nível, eles chamam um sensitivo. O homem se desloca de outra cidade para ajudar o casal. Ele faz uma ronda, escuta Katie (Micah só quer tirar sarro) e avisa aos dois que a casa é assombrada não por um fantasma (alma de uma pessoa morta), mas por um demônio. Mas ele não pode fazer nada, pois não se trata da especialidade dele. “Liguem para esse meu amigo, que é demonologista. Com certa vai poder ajudá-los”. Antes de sair, o sensitivo é bacana: adverte o casal para não usarem em hipótese alguma uma tábua ouija e explica que energias negativas dão força para o demônio.

O que o namorado faz? Ele não liga para o especialista, deixa a namorada mais nervosa, provoca o demônio toda hora e leva uma tábua ouija para dentro de casa, que acaba incendiada.

Em uma cena típica de macho possessivo, Micah fica irritado com o demônio e diz que a namorada é dele, a casa é dele e que ele vai, por isso, resolver o problema. Um homem egocêntrico, machista e egoísta.

Micah deixa a namorada sozinha em vários momentos e faz tudo do jeito dele, no tempo dele. É Micah, por iso, a grande assombração da vida de Katie. Ele é tão idiota e egoísta, que em certo momento do filme, você começa a desconfiar que o demônio está tentando defender Katie.

Leia também nossa crítica de “Os Intrusos”.


Bruno Leal

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor do Departamento de História da Universidade de Brasília. É editor do portal Café História e colabora esporadicamente para o Bonecas Russas.

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